Sigo firme trilhando o acostamento.
Quem me vê a cantar nem se dá conta
de que no mochilão levo lamento
e uma cruz; no meu peito, sofrimento.
É a dor quem conduz, quem me aponta
as estradas que devo percorrer,
as garrafas que tenho que beber.
Mas, carona, não pego uma qualquer.
Só vou se for um louco que vier,
pra ser salvo, pra dar e receber.
As plantas que margeiam o caminho,
algumas embelezam, outras ferem.
Ainda acompanhado, estou sozinho,
sem parente, amigo ou vizinho.
Eu não sei o que todos eles querem.
Continuo porque não tenho escolha
– é preciso plantar pra que se colha -,
mas, nas vilas e ruas por que passo,
não conheço ninguém, nenhum espaço
ou sentimento antigo que me acolha.
Vontade de voltar mais uma vez,
mas eu sei como é longo o regresso.
Nossa cidade toda se desfez,
só há a igrejinha em pé, talvez,
porque a fé é cega, nela ingresso
e peço que o passado feche a porta
pra dor que o coração não mais suporta.
Saio andando sem nem olhar pra trás,
pois, voltando, eu sei, não estarás.
Meu futuro contigo é o que importa.
Thiago Amazonas de Melo
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