Resoluções de ano novo em fases (ou Iter resolutionis)

Fim de ano. É época de listarmos resoluções a serem cumpridas à risca no ano que se aproxima. Planejar é ótimo: a cogitação é a primeira e a mais saborosa etapa da realização de algo que pretendemos fazer. Pensamos em quando fazer, como fazer, com quem fazer, encadeamos todos os caminhos que devemos seguir e, dado o último passo mentalmente, ali está! Já conseguimos ver a coisa pronta. E com que satisfação! “Que livro massa eu terei escrito!”, “enfim, terei feito todos aqueles exames que o médico passou”, “estarei em ótimo estado físico”, “terei me reaproximado de meus amigos”… Tudo no ano seguinte.

Passada a ressaca do réveillon, começamos os atos preparatórios. Esboçamos o esqueleto do livro, marcamos exames, compramos roupa de academia e mandamos e-mails de “vamos marcar” para os amigos de quem nos distanciamos. Gastamos um tempão fazendo isso. É uma forma semi-consciente de adiar, sem culpa, o verdadeiro início da execução dos planos. Porém, depois de realizados os atos preparatórios, com todos os instrumentos às mãos, restaria, simplesmente, começar a fazer tudo a que nos propusemos.

Bem, na verdade, essa parte, a dos atos de execução, já não é tão simples nem tão prazerosa. Geralmente nos exige trabalho, tempo, disciplina e persistência. Não atingimos o objetivo tão rápido quanto na fase da cogitação, momento em que basta imaginar o cumprimento das etapas e o resultado alcançado para nos sentirmos, em alguma medida, realizados.

Como os esforços reais são bem mais custosos, física e mentalmente, do que os exercícios imaginativos, deixamos de cumprir muitas das metas traçadas para o ano seguinte, o que nos dá uma incômoda sensação de frustração. Para evitá-la, algum consultor diria para traçar metas realistas.

De fato, estabelecendo metas realistas, temos mais chances de cumpri-las. Mas eu, que acho meio chata essa ideia de “metas realistas”, decidi fazer como a maioria: listar resoluções de ano novo irreais e me satisfazer imaginando que conseguirei alcançar esses objetivos.

No final do ano que vem, ao me deparar com a realidade frustrante de não ter cumprido as resoluções, farei como neste ano e nos passados: renovarei as ilusões e escreverei as mesmas resoluções para o ano seguinte, com todo o prazer que isso nos proporciona. Talvez acrescente algumas metas novas. Talvez até exclua algumas antigas, mas não por já tê-las cumprido, e sim por já ter perdido o interesse em vê-las realizadas, mesmo que apenas no plano da cogitação, da imaginação.

Thiago Amazonas de Melo
31 de dezembro de 2016
(texto reaproveitado desde 2013)


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